Sandes de Choco
Um espaço dedicado ao choco em geral e à sandes de choco frito em particular. E aos seus derivados e sucedâneos. E à mini. E não só.

quinta-feira, junho 02, 2005

"Ir ao banho à doca"



Está muito calor hoje em Lisboa. Achei que era importante saberem isto. Ainda mais com a gravata que me aperta o pescoço e camisa à qual arregaço as mangas, na esperança vã de me refrescar um pouco.

Da janela da sala onde me encontro vê-se a piscina de um famoso health club da moda frequentado por pequenos burgueses mais sortudos que eu, aqui a escrever no blog, ah... e às vezes também a trabalhar (só quando o chefe pergunta o que estou a fazer).

Agora um parêntesis...
Há uma questão interessante em relação à gravata e ao último botão da camisa bem apertados. O pessoal das gravatas parece ter a convicção de que seremos tanto mais produtivos quanto mais desconfortável for o nosso vestuário. Apercebi-me disto ao ler o Dilbert (uma autêntica escola para a vida) e é fácil de comprovar. Provavelmente se viesse com uma armadura de ferro do século XII, barbatanas e garrafa de mergulho às costas, aí sim, eu seria bem mais produtivo. Mas o fato e gravata não são suficientemente desconfortáveis para mim e continuo na mesma ronha de sempre.

A minha teoria é um pouco diferente: "Eles" obrigam-nos a usar fato e gravata por serem uns sádicos sem mais nenhum prazer na vida que não seja arreliar-nos a "nós", pessoas saudáveis e fixes, e que até estiveram no Jamor a ver o Vitória ganhar.
Para além disso acho que "eles" nos obrigam a usar a gravata para fazer o efeito de garrote no pescoço e o sangue não fluir até à cabeça.
Assim não temos que pensar nem tomar nenhum tipo de acção, marchando alegremente como autómatos em direcção aos nossos empregos, nunca nos questionando o que raio andamos aqui a fazer. Assim ficamos sempre naquela posição de felicidade ignorante, típica dos lobotomizados (leia-se: aqueles que foram alvo de uma lobotomia). O único problema é a estupidez crónica em que caímos, uma ou outra alucianação, causada por um cérebro pouco oxigenado, e por fim, mas não menos importante, um ou outro pingo de baba que às vezes cai na gravata.

Felizmente eu nunca aperto a gravata nem o último botão da camisa. É só assim que consigo manter a clarividência.
Fim do parêntesis!

Voltemos então à piscina pequeno-burguesa que vislumbro da minha janela. Alargo mais um pouco o nó da minha gravata (vergonhosamente desapertado e nada digno de um consultor sério!) e penso: "O que era fixe era estar ali ao banho em vez de estar aqui a fingir que trabalho. Ou então ir ao banho à doca."

"Ir ao banho à doca"
(finalmente a explicação do título. é incrível como consegui divagar durante vinte e tal linhas para chegar aqui. ai se eu ganhasse à linha...)
A expressão fulmina-me como um raio. Num flashback, digno da série Lost, vejo-me a conversar com o meu irmão, acabado de chegar da inspecção para a tropa, no Quartel da Ajuda em Lisboa.
"Então és de Setúbal e nunca foste ao banho à doca!?" perguntou um militar que atendeu, incrédulo, e certamente conhecedor das tradições Setubalenses, o irmão. O meu pobre irmão, coberto de vergonha, lá foi dizendo que não.

Ao contrário da maioria dos posts deste blog, isto é mesmo verídico! A não ser que estas memórias sejam o resultado da alucinação esquizofrénica causada pelas gravatas demasiado apertas que já passaram por este pescoço.

Eu também nunca fui "ao banho à doca". A mim não me perguntaram nada disso na inspecção. Os praças seriam menos conhecedores das tradições sadinas.
Será de família? Não seremos, porventura, setubalenses típicos? Será possível ser de Setúbal e nunca ter ido "ao banho à doca"?
É possível. Eu sou a prova viva. Mas serei feliz assim, sem nunca ter ido "ao banho à doca"?

0 leitores trincaram a sandes:

Enviar um comentário

<< Voltar à Sandes

  eXTReMe Tracker